Campanha alerta para risco de móveis caírem sobre crianças

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fonte: O Globo

A reedição do recall de 29 milhões de cômodas e armários da Ikea, marca sueca especializada em móveis de baixo custo, após a morte de mais uma criança nos Estados Unidos, reacendeu o alerta sobre os riscos do tombamento de móveis e eletrodomésticos pesados, como TVs e fogões. Nos EUA, uma criança morre a cada duas semanas quando uma TV, um móvel ou um eletrodoméstico cai sobre ela. O Inmetro esteve à frente de uma campanha de conscientização sobre esses riscos, em parceria com a ONG Criança Segura.

O objetivo é alertar pais, responsáveis, classe médica e instituições de ensino infantil sobre o perigo. A iniciativa foi da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ( OCDE), que reuniu os regulamentadores dos países que são referência em segurança infantil, como Estados Unidos, Canadá, Austrália e os da União Europeia.

Pesquisador do Inmetro, Paulo Coscarelli afirma que a OCDE fez um esforço concentrado, que contou com a participação de 19 países, mas ainda há muito a ser feito, e o trabalho não para na campanha:

– Precisamos continuar permanentemente trabalhando a conscientização sobre o problema, utilizando todos os canais que dispomos: redes sociais, sites e imprensa.

Gabriela Guida de Freitas, coordenadora nacional da Criança Segura, ressalta que, no Brasil, a cultura de prevenção não é muito forte e que, para evitar esse tipo de acidente – assim como todos os outros – falta conscientização e informação sobre o que pode ocorrer com as crianças e como evitá-los:

– No caso dos tombamentos de móveis, é preciso que se fale mais sobre esse tipo de acidente e os riscos a ele inerente para que as pessoas tomem consciência de que isso pode acontecer com qualquer um, a qualquer momento. E explicar que podem ser evitados com medidas simples.

No Canadá, entre 2011 e 2017, foram reportados 19 incidentes envolvendo tombamento de mobiliário, com três mortes. Na Austrália, foram registradas 22 mortes de crianças abaixo de 9 anos desde 2001. Anualmente, esse tipo de acidente leva 2.650 pessoas ao hospital (sendo 72% delas crianças abaixo de 9 anos e 56% abaixo de 4 anos).

No Japão, foram registrados mais de 40 casos de ferimentos decorrentes de queda de móveis entre 2010 e 2017. As principais causas de lesões e morte são esmagamento, choque e sufocamento, quando a vítima fica presa sob o objeto e não consegue respirar.

No Brasil, ainda são poucos os dados sobre o problema, alerta Gabriela, lembrando que alguns casos tiveram repercussão na mídia. O último aconteceu semana passada, em Sinop, no Mato Grosso, quando um menino de três anos morreu após subir em uma estante, e o aparelho de TV cair sobre ele. A criança chegou a ser encaminhada ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos.

Para mapear os índices de acidentes vinculados ao tombamento de móveis e TVs no Brasil, entre julho e agosto deste ano, o Inmetro realizou uma pesquisa. Do total de entrevistados, 93% afirmaram já ter visto ou tomado conhecimento de casos de crianças escalando móveis.

Entre esses, 77% afirmaram saber de casos de crianças que sofreram acidentes porque o móvel ou a TV tombou sobre elas. O levantamento revela, ainda, serem bastante elevados os percentuais de lesões leves em decorrência de tombamento de móveis ou TV (43,1%) e de lesões graves ou fatais (21,2%).

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Para evitar esses acidentes, a prevenção é a principal ação a ser tomada, afirmam os especialistas. Por isso, é importante verificar, não só no quarto da criança, mas em todos os cômodos da casa, se móveis como estantes, cômodas e racks estão bem fixos à parede. Outra ação simples, segundo o Inmetro, é ancorar TVs e outros eletrodomésticos de grande porte, prendendo-os à parede ou ao móvel com abraçadeiras ou suportes adequados. Nada, porém, substitui a supervisão dos pais e responsáveis, diz Coscarelli:

– As crianças são curiosas, fazem qualquer coisa, tendem a subir no mobiliário para tentar alcançar algum objeto. É preciso estar sempre atento. Temos que nos preocupar não só com o móvel em si, mas também com o peso daquilo que colocamos sobre ele.

Maria Inês Dolci, vice-presidente da Proteste, aconselha que, na hora de comprar qualquer tipo de móvel, principalmente para crianças, verificar se eles seguem as normas de segurança, não têm partes pontiagudas e se são estáveis, para não terem o risco de tombar. Acontecendo qualquer tipo de acidente, afirma, o consumidor deve entrar em contato com o fornecedor e com órgãos de defesa do consumidor, para, se for o caso, o fabricante lançar uma campanha de recall, para retirar o produto do mercado.

Segundo o pesquisador, o Inmetro pretende aprofundar o estudo sobre os riscos de produtos comercializados no país para avaliar se cabe adotar alguma medida regulatória adicional. No momento, reúne informações sobre o tema no âmbito internacional e dados recebidos de acidentes no Brasil. Para que se conheça a extensão do problema, Coscarelli afirma que é essencial que todos os casos de acidentes sejam relatados no Sistema Inmetro de Monitoramento de Acidentes de Consumo (Sinmac), no link www.inmetro.gov.br/sinmac, para ajudar o instituto a decidir se cabe, ou não, uma regulamentação futura que cubra todos os casos passíveis de risco:

– Está no nosso radar fazer ensaios nesses produtos. Uma coisa é simular a criança escalando o móvel. Mas há aqueles que são inerentemente perigosos por si só, que basta abrir uma gaveta para ele tombar, sem ninguém subir ou se apoiar nele. Não há nada garantido ainda neste sentido, pois há todo um trâmite a ser seguido, inclusive financeiro. Quem sabe, caso venham a ser feitos estes ensaios, o Inmetro conclua que existem casos em que a campanha não é suficiente e é preciso adotar alguma medida regulatória futuramente.

Na opinião de Coscarelli, ainda falta um canal de comunicação entre fornecedores e consumidores, pois falta clareza em relação aos riscos e a importância de fixação desses mobiliários. Há exceções, afirma o pesquisador. A Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), por exemplo, colocou o link da campanha em seu site como forma de chamar atenção para o problema. Fabricantes de móveis e de TVs já incluem em seus manuais orientações sobre fixação desses produtos para evitar acidentes.

– Como bem sabemos, o consumidor não lê manual de instrução. Fora que fixar os móveis ou a TV gera custos, e as pessoas acabam deixando de lado a segurança para não ter gastos extras.