Quiosques apostam em serviços requintados e levam sofisticação à orla

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quiosque_praiafonte: O Globo

Parece um pôr do sol em Ibiza, mas o fim de tarde ao som de música lounge e regado a clericot é no fim da Praia da Reserva, mesmo, quase no Recreio. Inaugurado há dois meses, o Pesqueirinho Beach Lounge — espécie de versão mais descolada do já tradicional quiosque Pesqueiro, que continua em funcionamento na outra ponta da Reserva — reproduz a atmosfera presente nos famosos beach clubs das Ilhas Baleares, no Mar Mediterrâneo. Para tanto, reúne música, drinques e alta gastronomia. Ele é um dos sofisticados quiosques recém-inaugurados na orla da região, responsáveis por um upgrade no cardápio de atrações à beira-mar.

No caso do Pesqueirinho, a receita para emular os quiosques europeus começa pela decoração em estilo provençal, inspirada na região situada no sul da França e concebida para encher os olhos de uma clientela exigente e viajada. O cardápio leva a assinatura da chef Monique Gabiatti, nutricionista de famosos como Ivete Sangalo e André Marques. As opções incluem iguarias da cozinha mediterrânea, rica em frutos do mar. Para refrescar, não faltam drinques com champanhe, feitos pelo veterano mixologista Lelo Forti, da escola Mixing Bar is Cool.

A trilha sonora é outro ponto alto. A música, a uma altura estudada para não atrapalhar o bate-papo, é a chamada balearic house, subgênero da música eletrônica. Para cuidar da programação musical do quiosque, que inclui apresentações de DJs nos fins de semana, foi escalado o produtor português Dukka Caliery, ex-Café de La Musique. Ele garante que o novo conceito já caiu no gosto do público.

— Às vezes, temos filas de espera. Além do público da Barra e do Recreio, estamos atraindo a atenção do público da Zona Sul, que cruza a cidade para conhecer o quiosque — garante Caliery, ressaltando que a música se encerra por volta das 22h. — A ideia não é fazer uma boate. Trabalhamos para um público que acorda no dia seguinte para aproveitar a praia e a natureza.

No Pescato, a principal aposta é a gastronomia. “Sou capaz de servir aqui no meu quiosque qualquer prato já experimentado em restaurantes de renome, como o Antiquarius”, garante o empresário Amilton Coutinho, dono do quiosque aberto há quatro meses ao lado do Posto 5 da Praia da Barra. Descrito por ele como um restaurante à beira-mar, o estabelecimento tem opções como risoto de funghi com filé grelhado, château grelhado, anchova frita em postas e musselina de mascarpone — tudo servido com louças da marca francesa Fontignac. Apesar das atraentes opções da carta, os clientes do quiosque não precisam se ater ao que está escrito no menu.

— Ofereço um serviço de restaurante. Não tenho caldeirada, comida japonesa ou ceviche de linguado no cardápio, mas basta pedir que meus chefs estão aptos a preparar na hora. A especialidade deles é tudo — afirma Coutinho, garantindo que o Pescato é o único lugar no Rio onde se pode provar camarões VG empanados na tapioca.

Cerca de 90% dos peixes servidos no quiosque são pescados no mesmo dia. Quando a receita pede fritura, utiliza-se óleo de algodão. As carnes presentes no cardápio incluem bife ancho, medalhão e picanha argentina. À disposição dos clientes está ainda uma adega com mais de 60 rótulos de vinhos de quatro nacionalidades. Por R$ 2.650, chega à mesa uma garrafa do Pêra-Manca, prestigiado vinho português. Para atender qualquer tipo de público, os garçons falam de dois a três idiomas e precisam entender de harmonização.

Coutinho conta que a ideia de oferecer produtos sofisticados na praia surgiu durante um passeio pelo calçadão.

— Eu comecei a observar os serviços oferecidos pelos outros quiosques e percebi que faltava uma coisa mais bem cuidada. Quando vinha passear na praia, eu só bebia; trazia algo para comer da minha casa. Agora, posso dizer que dá para comer bem aqui — diz o empresário, que já atendeu no local personalidades como o ator Alexandre Nero, morador da região.

O Gávea Beach Club, de São Conrado, abriu uma filial na Barra em agosto do ano passado. Isso, por si só, já seria uma novidade. Mas, há pouco mais de um mês, o quiosque passou por uma repaginação. Ele agora tem ombrelones, plantas decorativas e banco com almofadas. E os uniformes dos funcionários ficaram mais sóbrios. Isso, para se falar só do que salta à vista.

— Além de dar um visual mais bonito ao quiosque, todas essas mudanças serviram para trazer mais conforto para os nossos clientes. Por exemplo: antes, todas as mesas ficavam no meio do salão. Com os bancos, colocamos todas elas nos cantos e ganhamos mais espaço no centro — explica Natacha Bueno, gerente do quiosque. — Também reduzimos o nosso cardápio, que era imenso e tinha itens raramente pedidos; passamos a abrir às segundas-feiras; e criamos um cardápio de petiscos que é servido das 10h ao meio-dia.

Com a nova cara, o quiosque, que já era procurado para festas de aniversário, passou a atrair também eventos empresariais. O primeiro foi realizado no mês passado.

— Uma empresa de vinhos nos procurou porque queria promover uma degustação para os seus clientes. Funcionou tão bem que decidimos abrir para outras interessadas — conta Natacha.

O próximo passo do Gávea Beach Club da Barra é ter uma playlist para cada momento do dia. Até agora, o fundo musical é composto por CDs e pen drives de funcionários da casa.

— É um som bom, de qualidade, mas queremos contratar um profissional para montar uma setlist bacana. Porque o que funciona de manhã não serve para a tarde nem para a noite. E queremos ter mais diversidade também, para o cliente não enjoar — diz Natacha.

Há seis anos, a italiana Iolanda Ruggiero inaugurou o primeiro Gávea Beach Club, em São Conrado, em sociedade com o irmão. Segundo ela, o quiosque foi pioneiro em servir refeições:

— Agora, todo mundo nos copiou. Mas não vejo problema nisso. A cidade tem uma orla maravilhosa, deve ser aproveitada. Na Europa, estamos muito acostumados a comer na praia. Aqui, vocês têm um clima bom e esse cenário maravilhoso; então, por que fazer um quiosque só com refrigerante e hambúrguer?

O quiosque da Barra tem suas particularidades.

— Aqui, a clientela é um pouco diferente, por causa dos muitos hotéis. Os turistas vêm ao Brasil com expectativa de comer carne vermelha. Por isso, aqui temos mais pratos com carne de boi. Em São Conrado, onde o quiosque é mais frequentado por moradores da cidade, o peixe tem maior saída — compara.

O Riba foi outro que apostou numa filial praiana na Barra. A reprodução de azulejos com desenhos geométricos na decoração deixa claro que se está na versão barrense e praiana do botequim chique, com unidades também na Rua Dias Ferreira, no Leblon, e na orla do mesmo bairro. Inaugurado durante a Olimpíada perto da Avenida Olegário Maciel, o quiosque tem um menu ligeiramente diferente para a região.

— Achamos apropriado criar um cardápio de café da manhã, que não temos na Zona Sul. É para o público que acorda cedo e vem direto para a praia. A ideia é que o cliente possa ficar o dia todo por aqui — diz a chef Renata Araújo.

Quem quiser almoçar encontra 12 sugestões com frutos do mar, todas assinadas por Renata em parceria com David Connell, sous-chef do três estrelas Grace, localizado em Chicago, nos Estados Unidos. A carta de drinques é uma das apostas do quiosque, que convidou o bartender e mixologista argentino Tato Giovannoni, do bar Florería Atlantico, para cuidar da seleção. Sangrias, clericots e drinques foram elaborados por ele especialmente para os empreendimentos da rede.

Os principais insumos usados nas receitas, como pães, granola e linguiças, são produzidos artesanalmente por 40 funcionários em uma cozinha central, em Jacarepaguá.

— Para elaborar os produtos, usamos matéria-prima nobre, como a farinha francesa e o malte integral. Quase tudo do cardápio é feito por nós — garante Renata.

Hospedada no Rio para um congresso, a gaúcha Tatiane Bertoluzi conta que costuma passear com frequência nas praias cariocas quando visita a cidade. Entusiasmada, ela comemora a chegada de quiosques mais refinados na Barra.

— O Rio sempre foi muito carente de serviços mais ajeitadinhos na orla. É bom encontrar um atendimento diferenciado e boa comida na beira da praia, sem aquele ambiente de “quioscão”. Mesmo não vindo à praia como banhista, escolhi o Riba para encontrar uma amiga. Na verdade, vim pelo açaí servido dentro do coco, que só encontro aqui — diverte-se a jovem.

Se a concorrência aumentou, quem já estava estabelecido não dormiu no ponto. Um dos pioneiros na proposta de ser um beach club à moda europeia, o Clássico Beach Club abriu um novo ponto na Praia da Barra, o Clássico Beach Downwind, próximo ao Posto 7. A estrutura é convidativa, e inclui espreguiçadeiras e almofadas. Um jardim delimita o espaço que o estabelecimento pode ocupar na areia e deixa o ambiente ainda mais agradável.

O primeiro quiosque da marca surgiu há três anos, no Posto 2. Idealizado pelos sócios Carla Romano e Marcio Rodrigues, virou rapidamente um ponto de encontro para praticantes de esportes radicais. No Downwind, a dupla aposta em uma programação musical semanal, com shows gratuitos de rock, surf music, electro jazz e bossa nova lounge.

Assim como os dos vizinhos recém-inaugurados, o cardápio do Downwind tem opções que não se via em quiosques de praia até pouco tempo atrás. Entre elas está o Spinach Dip, um creme de espinafre com duo de queijos, servido com tortilhas de milho crocantes. Já o Ceviche Quente de Cavaquinha é uma receita peruana de cavaquinhas grelhadas, com uma base de leite de tigre, falso aji amarillo, temperos especiais e cubos de batata-doce. E pensar que antigamente os quiosques da região se limitavam a servir batatas fritas, porções de calabresa, gurjões de peixe e que tais.